Ao que parece, a atual greve de professoresna Universidade Cândido Mendes (Ucam), iniciada no passado dia 22 de junho – e que já dura mais de um mês – só acontece na unidade Centro, sendo feita apenas pelos educadores do curso de Direito,
segundo o Diretório Acadêmico Rui Barbosa (Darb). Na última quinta-feira
(30/7), OPINÓLOGO conversou com o presidente do diretório, Carlos Guedes, e o diretor
de Planejamento, Rodrigo Sales, ambos alunos de Direito, que fizeram
questão de enfatizar que a interrupção das aulas seria mínima.
Outra novidade que contaram foi a de que a instituição de ensino
superior (IES) teria depositado na conta dos empregados dois meses de
salários atrasados há pouco mais de uma semana. Para os membros do Darb,
significa uma esperança e um voto de confiança no reitor Cândido
Mendes, quem os teria prometido tentar sanar – sem previsão de data – as
pendências financeiras da universidade que leva o seu nome. 80% dos
funcionários estavam sem salários há quatro meses, enquanto os 20%
restantes, desde janeiro passado, segundo o Sindicato dos Professores do
Município do Rio de Janeiro e Região (Sinpro-Rio). Também é importante
frisar que essa entidade sindical não detalha em seu site a situação da
greve, quais unidades seriam afetadas nem o percentual de adesão, por
exemplo, o que dá uma falsa ideia de que a mesma seja generalizada.
Evasão e inadimplência
De acordo com os discentes, o índice de inadimplência – com o não
pagamento de mensalidades – vem se arrastando há pelo menos 10 anos, o
que, supostamente, comprometeria a IES a honrar seus compromissos que
vão de salários atrasados ao não depósito do Fundo de Garantia por Tempo
de Serviço (FGTS), por exemplo. Também houve uma 'retração' no
pagamento por parte dos alunos, devido a um boicote, supostamente,
proposto pela Associação de Docentes e Funcionários da Ucam (Procam). O
objetivo seria apenas atrasar o boleto de rematrícula de julho de 2015.
Contudo, e ao que parece, teve efeito mais grave: vários alunos teriam
deixado de quitar a mensalidade de meses anteriores.
Por causa da evasão de clientes para outras unidades, que não estariam
sendo afetadas pela crise, o curso de Direito da unidade Centro não se
autossustenta. Em prática quer dizer que o salário pago aos docentes
dessa graduação é superior ao que é arrecadado com a mesma. O Darb
estima que pelo menos 25% dos estudantes dessa graduação estejam se
transferindo de campus.
Demissões
Um grupo de professores teria exigido ao reitor que realizasse
demissões, com o intuito de reequilibrar as contas da Universidade
Cândido Mendes.
“A unidade Centro [da Cândido Mendes] é conhecida por sua
qualidade. Os professores estão engajados e lutando pela qualidade do
curso. A gente não acredita que o curso de Direito vá acabar. É uma
mudança estrutural que precisa ser feita”, declarou Carlos Guedes.
O diretório acadêmico crê que a greve termine até o próximo dia 10 de
agosto, se houver negociação entre a Ucam e os grevistas, para dar
continuidade ao primeiro semestre letivo de 2015 e, por conseguinte, a
aplicação das provas. Para os dirigentes estudantis, o ano letivo se
encerraria em dezembro deste ano, não chegando a 2016. Na última
assembleia docente, o presidente da Procam, professor Hélio Borges,
havia garantido que 'nenhum aluno sairá prejudicado' e que os formandos poderiam preparar a festa prevista para o próximo dia 27 de agosto.
Diferente da greve anterior, ocorrida em fevereiro
deste ano, no início do primeiro semestre, desta vez, os empregados não
impuseram os repasses ao FGTS e ao INSS para voltar aos postos de
trabalho. Somente os salários atrasados de 2015.
Outras informações
A atual gestão do Darb aproveitou a conversa com este jornalista para
falar dos projetos que vem desenvolvendo na Ucam, entre eles o de
auxílio aos estudantes com deficiência visual por parte dos demais como
atividade extracurricular. Também disse que tenta motivar os colegas a
permanecer no campus, e anunciou a criação de um site para ajudar aos
alunos com as matérias. O link não será informado, pois a página está em
construção.
Breve análise
Durante toda a conversa, os dirigentes do Darb buscaram zelar pela
imagem institucional, sempre exaltando as qualidades da Ucam e de seu
corpo docente, seu potencial de formar grandes nomes no Direito e em
outros cursos, ademais de demonstrar convicção de que a crise enfrentada
pela instituição de ensino poderia ser solucionada. Foram atenciosos
com este jornalista.
Todavia, foi possível notar um certo receio por parte deles sobre como
este texto seria produzido, para não manchar o nome da IES. Não há a
menor intenção de prejudicá-la por parte deste jornalista!!! Nunca
houve. Muito pelo contrário. Só resta torcer para que a universidade
continue crescendo e seja uma opção a milhares de universitários que
querem um bom currículo e para que os trabalhadores mantenham seus
empregos. O objetivo aqui é colocar em 'pratos limpos' para não gerar
mal-entendidos nem que este repórter e esta página sejam vistos como
inimigos de quem quer que seja. Mas, como parte da liberdade de
imprensa, fatos de interesse público não podem ser omitidos. E a linha
editorial de OPINÓLOGO é a de que as reportagens sejam honestas e
transparentes e estejam o mais próximo possível da realidade, embora
sejam opinativas e dotadas de um certo senso crítico. Em dois momentos
da conversa, e de maneira discreta, fizeram questão de falar que era
preciso tomar cuidado com o que se publica, para depois não ser
processado.
O presidente do Darb, Carlos Guedes, pediu que este jornalista lhe
enviasse o texto antes de publicar. A alegação foi a de evitar que
saísse algum dado 'errado'. Não é obrigação de um profissional de
comunicação pedir autorização a outrem para elaborar uma reportagem.
Isso se caracterizaria censura prévia. Porém, como gentileza e por uma
questão de ética profissional para com o entrevistado, o conteúdo lhe
foi enviado, com exceção desta breve análise que é uma visão particular
deste repórter sobre os acontecimentos. Aliás, esta avaliação só está
sendo produzida devido à postura incômoda e intransigente.
A questão não é exatamente a falta de confiança nos profissionais de
imprensa, e sim 'controlar' o volume de informações que os mesmos
recebem para não mencionar nada que denigra a instituição de ensino. É
bem provável que o descredenciamento da Universidade Gama Filho (UGF) e
do Centro Universitário da Cidade (UniverCidade), ambos no Rio de
Janeiro, em janeiro de 2014, tenha provocado um certo pânico. Quanto
menos divulgação, melhor.
Noticiado por
Diego Francisco